terça-feira, 1 de maio de 2018

Trilha sonora para leituras

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A música tem um forte papel no dia a dia daqueles que não conseguem sobreviver sem sua influência. Ela envolve e emociona dentro de uma perspectiva subjetiva para cada indivíduo. Para muitos ouvir música durante a leitura desconcentra e atrapalha, para outros é reconfortante. Para os que se incluem no grupo daqueles que acreditam (e que sentem) que conforta e acalenta, segue sugestões de músicas para ouvir durante a leitura:

Livro: O Conto da Aia

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Livro: O Conto da Aia 
Autor: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Páginas: 368


Em o conto da aia nos deparamos com a assustadora República de Gilead, os Estados Unidos da América já não existe mais, seu governo foi transformado em um Estado teocrático e totalitário onde a opressão feminina foi transformada em lei. Nos anos que antecederam a narrativa, a humanidade é tomada por uma onda de infertilidade, onde pouquíssimas mulheres conseguem engravidar e ainda sim, entre as que conseguem algumas não conseguem levar a gestação até o final, e alguns dos bebês que chegam a nascer não conseguem sobreviver. Frente a uma possível extinção da humanidade, as mulheres que são consideradas férteis tornam-se propriedade do Governo e são obrigadas a tomarem para si o papel de aias, onde são enviadas para casa de Comandantes, homens de grande escalão do governo, a fim de dá-lhes filhos. A república de Gilead é construída sob um falso fundamentalismo cristão baseado no antigo testamento, tudo que é feito é feito sob a perspectiva de uma religiosidade cega que só favorece, como sempre, os que estão no poder.

A história é narrada pelo ponto de vista de OfFred. OfFred recebe este nome por seu comandante atual chamar-se Fred, pois as aias não possuem direito de serem chamadas por seus nomes, logo, elas recebem o nome do comandante para qual foram designadas, ou seja, toda aia que passar pela casa do Fred, receberá o nome Offred, Of “De...” Fred. Desta forma conhecemos OfGlen, OfWarren, e assim por diante. Através da narrativa de OfFred que se alterna entre presente e passado, podemos descobrir aos poucos como as mulheres foram privadas de seus poucos direitos da época que antecedeu a República, perderam o direito de trabalhar (por remuneração), também perderam todos os bens que possuíam em seus nomes, estes foram passados para os homens mais próximos da família, de forma que não lhes restou nada. As que tinham filhos foram separadas dos mesmos, e estes foram enviados para família em posição de poder, pelo que deu-se a entender. As mulheres férteis foram enviadas para um Centro de Reeducação, onde lhes era ensinado comportamentos de submissão, como não olhar nos olhos, permanecer com a cabeça abaixada, falar apenas se houvesse uma pergunta direta, de forma resumida o Centro de Reeducação era, em outras palavras, um centro de como se comportar em um sistema opressor. As aias foram privadas de toda personalidade, escolha e qualquer tipo de liberdade que podiam ter; não lhes era permitido ler, toda possibilidade de vaidade é considerada vã, suas roupas são designadas e todas são iguais, um vestido vermelho e um chapéu branco, sempre. Não lhes é permitido nenhum relacionamento afetivo, o papel delas na sociedade é apenas a reprodução da espécie. O Centro tentar converte-las à causa da República, é esperado que elas não questionem o que está havendo, e para isso o processo de reeducação é brutal.

Pontos dos livros, publicado em 1985, se mesclam perfeitamente com nossa sociedade e cultura atual, no Centro, por exemplo, mulheres que foram estupradas e abusadas são “conscientizadas” de sua culpa e são obrigadas a confessa-la diante de todas as outras. Nada do livro é novidade em vários pontos, porém tudo é exemplificado ao extremo, é extremamente opressor, extremamente machista, é extremamente assustador por fazer esse paralelo obvio com a realidade de hoje.

O livro é sobre uma aia, entretanto é notável que a vida de todas as mulheres da República são baseadas em opressão, essas são divididas em castas: as aias, as esposas, as marthas, as tias; cada uma tem seus papel limitado, algumas podem mais que outras, mas o poder propriamente dito, é inteiramente do sexo oposto.

A luta da protagonista é por sua identidade, é por esperança. Ela foi separada de seu marido e sua filha, e decide sobreviver pela esperança de revê-los novamente um dia. Mesmo que para isso ela precise se submeter à opressão e humilhação.

A história é sobre autonomia e sobre o que acontece quando há a privação da mesma. A leitura é incômoda e não tão fácil por ser vívida. Vivemos a falta de liberdade e a opressão da ausência do respeito. Não é fácil por ser atual, e por ser uma distopia tão possível em alguns pontos. A crítica do livro à sociedade de 1985 é a mesma à sociedade atual, 33 anos após seu lançamento, o que nos faz pensar sobre progresso e equidade, o que nos faz refletir sobre nossas ações e o que estamos fazendo para mudar e para não deixar que nada disso atinja a nossa realidade.

O conto da aia foi adaptado para TV em 2017 pelo serviço de streaming Hulu sob o título homônimo The Handmaid’s Tale, atualmente já está em sua segunda temporada. Anteriormente já havia um filme baseado no romance de Atwood, traduzido no Brasil para “A decadência de uma espécie” de 1990.